Coimbra, 3 de Maio de 1956 - Tempo sem coração, este nosso! Dir-se-ia que quanto mais os sistemas agregam os homens no redil social, mais sozinhos e desamparados deixam cada indivíduo. Com todas as protecções do Estado, o pobre cidadão fica sem afecto e sem ninguém. Embora não usemos ainda uniforme, somos já todos órfãos asilados.
in Diário - Miguel Torga, Vols. VII e VIII
Se a constatação de Torga era válida em 1956, muito mais o é agora.
Protegidos pela desculpa dos mecanismos de protecção social, abandonamos cada vez mais o indivíduo, transformando-o em simples estatística. Podem até ter onde dormir e o que comer, mas falta-lhes o afecto e a dignidade.
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