Ribeiro da Anta - Creixomil
quinta-feira, julho 31, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
Convicções
domingo, julho 27, 2008
sexta-feira, julho 25, 2008
1 das 7 maravilhas
O Convento de Banho em Vila Cova é um dos nomeados para o concurso que irá eleger as 7 maravilhas do concelho de Barcelos. Embora a iniciativa pareça caracterizar-se por algum amadorismo, parece-me interessante na medida em que propicia o conhecimento do nosso concelho. Pena é, as descrições serem tão "minimalistas", sobretudo porque têm o apoio da Câmara Municipal, que dispõe de quadros técnicos capazes de dotar a iniciativa de maior rigor e profundidade.
Mas, apesar de tudo, parabéns pela iniciativa. Outros houve que tiveram a ideia, mas nunca a concretizaram.
Mas, apesar de tudo, parabéns pela iniciativa. Outros houve que tiveram a ideia, mas nunca a concretizaram.
quinta-feira, julho 24, 2008
Crónicas do Cátabo
Crónica terceira
Já fui paneleiro. Brevíssimo paneleiro. Tão depressa condenado como sumariamente absolvido.
Era o ano de 1989. Habitava o rés-do-chão do número 9 da Rua de S. Miguel, no Porto. Um velho e cansado edifício que, descobriu-se há pouco, ocupa o lugar que antigamente foi de uma Sinagoga.
Espantosa rua aquela. Do lado de cima, ao dobrar da esquina ficava a sede local da Polícia Judiciária. Fechados no sorumbático edifício com maciças portas, os polícias tratavam das suas coisas policiais. Na rua, ocasionais vendedores de droga cuidavam de aplacar o seu vício. Rua plácida e preguiçosa, tinha também a sua vendeira de peixe: uma desgastada caixa de sardinhas substituía com denodo o frigorífico e o estreito passeio também desempenhava bem o seu papel de balcão. À noite, jogava-se às cartas ao ar livre e a dinheiro.
A minha filha mais velha tinha acabado de chegar.
E com ela as fraldas. Rumas de fraldas, todos os dias. Fraldas ainda sem prometidas habilidades para reter enxurradas e enchentes, capazes de estancar o Cávado e de pôr em sentido respeito o Minho, deixando ainda um suave rasto de odor a lavanda. Fraldas, enfim, que eram apenas fraldas: tecidas em algodão branco e reutilizáveis. Havia um pequeno e amoroso ritual doméstico: secar, recolher, passar a ferro, colocá-las aos pares, esticar pelas orelhas, dobrar em triângulo a primeira vez e repetir a dobra. Mas isso era depois. Antes, havia que as lavar.
Abaixo da porta da cozinha, havia um bocadinho de terreno. Desse maravilhoso camarote particular era-nos servido o Porto. À esquerda, a velha Sé, a ponte de D. Luís I. Mesmo em frente, o olhar esbarrava na formosa cúpula do Palácio da Bolsa. Do lado de lá, Gaia ajoelhava-se, em vénia, para o magnífico Douro.
Nesse terreninho estava o tanque de lavar.
Por esses dias fazia calor. Avental de plástico posto sobre o tronco nu, começou a diária lavagem. Primeiro, as fraldas pouco sujas. Depois, as de có-có. Uma água. Duas águas. Três águas. Torcer bem. Sacudir com energia. E estender no arame.
No último andar do prédio do lado, à janela, uma rapariga agita-se: vinde ver, vinde ver, depressa. Da outra janela surgem mais cabeças de raparigas. E de pronto sentenciam e decapitam a minha masculinidade. Um gajo a tratar de roupa de bé-bé?, é paneleiro! Só pode ser paneleiro. Viçosa risada geral.
Foi curto o meu paneleirismo. Durou uns metros medidos em poucos em passos. Quando voltei com mais fraldas, as molas presas nos dentes, alguma das moças reparou: olha!... mas tem barbas! Um paneleiro com barbas!, onde é que já se viu? O breve impasse foi resolvido com uma decisão salomónica: afinal não é paneleiro, só está a fazer uma paneleirice.
Já fui paneleiro. Brevíssimo paneleiro. Tão depressa condenado como sumariamente absolvido.
Era o ano de 1989. Habitava o rés-do-chão do número 9 da Rua de S. Miguel, no Porto. Um velho e cansado edifício que, descobriu-se há pouco, ocupa o lugar que antigamente foi de uma Sinagoga.
Espantosa rua aquela. Do lado de cima, ao dobrar da esquina ficava a sede local da Polícia Judiciária. Fechados no sorumbático edifício com maciças portas, os polícias tratavam das suas coisas policiais. Na rua, ocasionais vendedores de droga cuidavam de aplacar o seu vício. Rua plácida e preguiçosa, tinha também a sua vendeira de peixe: uma desgastada caixa de sardinhas substituía com denodo o frigorífico e o estreito passeio também desempenhava bem o seu papel de balcão. À noite, jogava-se às cartas ao ar livre e a dinheiro.
A minha filha mais velha tinha acabado de chegar.
E com ela as fraldas. Rumas de fraldas, todos os dias. Fraldas ainda sem prometidas habilidades para reter enxurradas e enchentes, capazes de estancar o Cávado e de pôr em sentido respeito o Minho, deixando ainda um suave rasto de odor a lavanda. Fraldas, enfim, que eram apenas fraldas: tecidas em algodão branco e reutilizáveis. Havia um pequeno e amoroso ritual doméstico: secar, recolher, passar a ferro, colocá-las aos pares, esticar pelas orelhas, dobrar em triângulo a primeira vez e repetir a dobra. Mas isso era depois. Antes, havia que as lavar.
Abaixo da porta da cozinha, havia um bocadinho de terreno. Desse maravilhoso camarote particular era-nos servido o Porto. À esquerda, a velha Sé, a ponte de D. Luís I. Mesmo em frente, o olhar esbarrava na formosa cúpula do Palácio da Bolsa. Do lado de lá, Gaia ajoelhava-se, em vénia, para o magnífico Douro.
Nesse terreninho estava o tanque de lavar.
Por esses dias fazia calor. Avental de plástico posto sobre o tronco nu, começou a diária lavagem. Primeiro, as fraldas pouco sujas. Depois, as de có-có. Uma água. Duas águas. Três águas. Torcer bem. Sacudir com energia. E estender no arame.
No último andar do prédio do lado, à janela, uma rapariga agita-se: vinde ver, vinde ver, depressa. Da outra janela surgem mais cabeças de raparigas. E de pronto sentenciam e decapitam a minha masculinidade. Um gajo a tratar de roupa de bé-bé?, é paneleiro! Só pode ser paneleiro. Viçosa risada geral.
Foi curto o meu paneleirismo. Durou uns metros medidos em poucos em passos. Quando voltei com mais fraldas, as molas presas nos dentes, alguma das moças reparou: olha!... mas tem barbas! Um paneleiro com barbas!, onde é que já se viu? O breve impasse foi resolvido com uma decisão salomónica: afinal não é paneleiro, só está a fazer uma paneleirice.
Texto: José Carlos Braga
Foto: Nuno Sousa
terça-feira, julho 22, 2008
sexta-feira, julho 18, 2008
quinta-feira, julho 17, 2008
terça-feira, julho 15, 2008
A vida em f1.8
Esta foto, um teste de uma lente de 3 tostões (leia-se pouco mais de 100€) que recentemente adquiri, retrata a vida para a maioria das pessoas nos dias de hoje. Um passado desfocado com o presente e um futuro ainda mais difuso. A maioria dos casais que vivem do seu salário e têm compromissos a longo prazo, passam actualmente por dificuldades que eram inimagináveis num passado recente.
segunda-feira, julho 14, 2008
sexta-feira, julho 11, 2008
quinta-feira, julho 10, 2008
quarta-feira, julho 09, 2008
Quanto vale uma vida?
terça-feira, julho 08, 2008
Nuances
segunda-feira, julho 07, 2008
Crónicas do Cátabo
Crónica Segunda
Do nome não recordo. Lembro bem da testa, brilhante de um suor oleoso, e das mãos, sebosas e inquietas, a segurar uma bolsilha. Este homem tinha uma estalagem, uma mulher e uma filha. Ou era uma estalagem, uma filha e uma mulher? Da estalagem é que não houve dúvidas.
Por aquela altura, já lá vai mais de uma década, no Tribunal de Barcelos foram julgados vários casos de violação. O homem da estalagem estava arrolado como testemunha num deles.
Estava-se na Primavera e corriam as Festas das Cruzes. Uma rapariga, aluna numa das escolas da cidade, com os seus 14 ou 15 anos (já não lembro bem), foi-se divertir numa das pistas de carrinhos de choque. Dias após, regressou ao mesmo divertimento. De ambas as vezes, estava sozinha. De ambas as vezes, chegou, gastou todo o dinheiro disponível em fichas e depois deixou-se ficar por ali, a assistir ao corrupio do local. A banhar-se na cativante e sedutora desordenança, como um peixe que abandona a segurança regrada do seu pequeno aquário doméstico.
Peixe de águas revoltosas e profundas, habituado a manhas e truques, com graduação obtida em festas e romarias, um empregado do divertimento não demorou a topar a rapariga.
Meteu conversa, e ela respondeu.
Ofereceu-lhe fichas, e ela aceitou.
Ganhou-lhe a confiança e a simpatia.
Um dia, esperava-a à saída da escola. Fez convite para um passeio, de carro.
Foram para um pinhal não longe da cidade. O condutor do automóvel violou-a. Cúmplice só na armadilha, o jovem da pista dos carrinhos de choque assistiu.
Gordinho, o homem da testa reluzente protestava com brandura, indignava-se com comedimento. No átrio do tribunal, já todos sabiam que era empresário e que estava impaciente e aborrecido pelo tempo, irrecuperável, que estava a perder. Tempo inutilizado ali; tempo tão querido e precioso para dedicar à sua amada estalagem.
Chegou por fim a sua vez de prestar testemunho.
O que é que nos pode dizer sobre o caso que estamos aqui a tratar?, perguntaram-lhe. E o homem da testa reluzente lamentou. Lamentou o tempo que lhe tinham feito perder. Lamentou ainda que nada pudesse contribuir, porque nada sabia.
Mas a vítima não é sua filha? É, sr. dr. juiz. Mas eu só sei que já perdi muito tempo com isto. Além do mais, eu trabalho, sou uma pessoa muito ocupada, tenho responsabilidades e a educação da minha filha é com a mãe dela. Para mais, tratando-se de coisas de mulheres.
Do nome não recordo. Lembro bem da testa, brilhante de um suor oleoso, e das mãos, sebosas e inquietas, a segurar uma bolsilha. Este homem tinha uma estalagem, uma mulher e uma filha. Ou era uma estalagem, uma filha e uma mulher? Da estalagem é que não houve dúvidas.
Por aquela altura, já lá vai mais de uma década, no Tribunal de Barcelos foram julgados vários casos de violação. O homem da estalagem estava arrolado como testemunha num deles.
Estava-se na Primavera e corriam as Festas das Cruzes. Uma rapariga, aluna numa das escolas da cidade, com os seus 14 ou 15 anos (já não lembro bem), foi-se divertir numa das pistas de carrinhos de choque. Dias após, regressou ao mesmo divertimento. De ambas as vezes, estava sozinha. De ambas as vezes, chegou, gastou todo o dinheiro disponível em fichas e depois deixou-se ficar por ali, a assistir ao corrupio do local. A banhar-se na cativante e sedutora desordenança, como um peixe que abandona a segurança regrada do seu pequeno aquário doméstico.
Peixe de águas revoltosas e profundas, habituado a manhas e truques, com graduação obtida em festas e romarias, um empregado do divertimento não demorou a topar a rapariga.
Meteu conversa, e ela respondeu.
Ofereceu-lhe fichas, e ela aceitou.
Ganhou-lhe a confiança e a simpatia.
Um dia, esperava-a à saída da escola. Fez convite para um passeio, de carro.
Foram para um pinhal não longe da cidade. O condutor do automóvel violou-a. Cúmplice só na armadilha, o jovem da pista dos carrinhos de choque assistiu.
Gordinho, o homem da testa reluzente protestava com brandura, indignava-se com comedimento. No átrio do tribunal, já todos sabiam que era empresário e que estava impaciente e aborrecido pelo tempo, irrecuperável, que estava a perder. Tempo inutilizado ali; tempo tão querido e precioso para dedicar à sua amada estalagem.
Chegou por fim a sua vez de prestar testemunho.
O que é que nos pode dizer sobre o caso que estamos aqui a tratar?, perguntaram-lhe. E o homem da testa reluzente lamentou. Lamentou o tempo que lhe tinham feito perder. Lamentou ainda que nada pudesse contribuir, porque nada sabia.
Mas a vítima não é sua filha? É, sr. dr. juiz. Mas eu só sei que já perdi muito tempo com isto. Além do mais, eu trabalho, sou uma pessoa muito ocupada, tenho responsabilidades e a educação da minha filha é com a mãe dela. Para mais, tratando-se de coisas de mulheres.
Texto: José Carlos Braga
Foto: Nuno Sousa
Vassalagem
Há sempre a ideia de vassalagem quando pensamos na Igreja Católica. Vassalagem aos padres, aos bispos, cardeais... Papa...
Haverá. Mas é uma adulteração do verdadeiro Cristianismo, porque em Igreja, a hierarquia apresenta-se como uma pirâmide invertida. À medida que subimos na hierarquia, mais estamos ao serviço dos outros.
Haverá. Mas é uma adulteração do verdadeiro Cristianismo, porque em Igreja, a hierarquia apresenta-se como uma pirâmide invertida. À medida que subimos na hierarquia, mais estamos ao serviço dos outros.
quinta-feira, julho 03, 2008
A ponte
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