Peniche, Setembro de 2009.
Estou na ala de segurança máxima do forte de Peniche, precisamente na cela onde esteve detido Álvaro Cunhal. Nas paredes, desenhos de um dos detidos mais "perigosos". Olho para eles e compreendo porquê. Ainda hoje, vários anos depois da sua morte, continua a cativar pessoas e a transmitir a sua mensagem com a sua obra. Podemos não concordar com as suas ideias, mas mentiremos se não admitirmos que foi um homem singular e único.
A guia que nos acompanhou durante a visita, diz-nos que a princípio, nem lápis nem papel queriam dar a Cunhal. Acabaram por ceder, mas o oficial de serviço rubricava todas as folhas, o que resultou no paradoxo de assinar uma mensagem de liberdade, comunhão e fraternidade que eram o oposto do ideal que estava a defender.
Olho para os desenhos, agora emoldurados e lá está o reflexo da janela, a mesma janela gradeada que impedia a fuga, mas permitia a entrada de luz para desenhar e sonhar um mundo diferente.