"Coimbra, 1 de Fevereiro de 1958 - Liberdade! Liberdade! Liberdade!
Parece infantil, mas é verdadeiro. Sem ela, é que nada feito.
Pode dar lugar a um certo desregramento, a uma certa anarquia. Mas o melhor do homem só nela se realiza. A chispa do seu génio criador, como um raio das trovoadas, necessita de amplidão para se mostrar. Já se sabe que a palavra foi degradada por Gregos e Troianos, e que um bom sofista é capaz de demonstrar que a água é doce. O pior é que quando a gente a bebe sabe-lhe mal. Pregam-nos a excelência da força e da opressão; confiamos e provamos; e sai-nos o estômago pela boca. A autoridade imposta, a ordem por canalização das vontades, são úteis na construção de pontes e na regularização do trânsito. Em matéria de floração humana, mirram e matam. Contra o definhamento do espírito só realmente a liberdade. (...) A razão esmagada, viu sempre que a única forma de corrosão da tirania, seria uma expressão sem peias. Sempre compreendeu que no dia em que a primeira voz açaimada se pudesse erguer a sério contra os muros das bastilhas, começaria a derrocada. A desgraça é que a tirania soube-o também. E nesse capítulo, nunca fez qualquer concessão. Cortou, como corta ainda, impiedosamente e cerce, a língua dos rebelados."
in Diário Vol VII e VIII, Miguel Torga
1 comentário:
Genial!
A imagem e as palavras de Torga.
Enviar um comentário