terça-feira, julho 29, 2008

Convicções


Há pessoas que ao primeiro argumento abdicam das suas convicções. Há quem facilmente contrarie aquilo em que acreditou durante anos. Há sempre quem prefira ir na corrente a ser considerado marginal.

Uma foto por dia


sexta-feira, julho 25, 2008

1 das 7 maravilhas


O Convento de Banho em Vila Cova é um dos nomeados para o concurso que irá eleger as 7 maravilhas do concelho de Barcelos. Embora a iniciativa pareça caracterizar-se por algum amadorismo, parece-me interessante na medida em que propicia o conhecimento do nosso concelho. Pena é, as descrições serem tão "minimalistas", sobretudo porque têm o apoio da Câmara Municipal, que dispõe de quadros técnicos capazes de dotar a iniciativa de maior rigor e profundidade.
Mas, apesar de tudo, parabéns pela iniciativa. Outros houve que tiveram a ideia, mas nunca a concretizaram.

quinta-feira, julho 24, 2008

Crónicas do Cátabo



Crónica terceira

Já fui paneleiro. Brevíssimo paneleiro. Tão depressa condenado como sumariamente absolvido.
Era o ano de 1989. Habitava o rés-do-chão do número 9 da Rua de S. Miguel, no Porto. Um velho e cansado edifício que, descobriu-se há pouco, ocupa o lugar que antigamente foi de uma Sinagoga.
Espantosa rua aquela. Do lado de cima, ao dobrar da esquina ficava a sede local da Polícia Judiciária. Fechados no sorumbático edifício com maciças portas, os polícias tratavam das suas coisas policiais. Na rua, ocasionais vendedores de droga cuidavam de aplacar o seu vício. Rua plácida e preguiçosa, tinha também a sua vendeira de peixe: uma desgastada caixa de sardinhas substituía com denodo o frigorífico e o estreito passeio também desempenhava bem o seu papel de balcão. À noite, jogava-se às cartas ao ar livre e a dinheiro.
A minha filha mais velha tinha acabado de chegar.
E com ela as fraldas. Rumas de fraldas, todos os dias. Fraldas ainda sem prometidas habilidades para reter enxurradas e enchentes, capazes de estancar o Cávado e de pôr em sentido respeito o Minho, deixando ainda um suave rasto de odor a lavanda. Fraldas, enfim, que eram apenas fraldas: tecidas em algodão branco e reutilizáveis. Havia um pequeno e amoroso ritual doméstico: secar, recolher, passar a ferro, colocá-las aos pares, esticar pelas orelhas, dobrar em triângulo a primeira vez e repetir a dobra. Mas isso era depois. Antes, havia que as lavar.
Abaixo da porta da cozinha, havia um bocadinho de terreno. Desse maravilhoso camarote particular era-nos servido o Porto. À esquerda, a velha Sé, a ponte de D. Luís I. Mesmo em frente, o olhar esbarrava na formosa cúpula do Palácio da Bolsa. Do lado de lá, Gaia ajoelhava-se, em vénia, para o magnífico Douro.
Nesse terreninho estava o tanque de lavar.
Por esses dias fazia calor. Avental de plástico posto sobre o tronco nu, começou a diária lavagem. Primeiro, as fraldas pouco sujas. Depois, as de có-có. Uma água. Duas águas. Três águas. Torcer bem. Sacudir com energia. E estender no arame.
No último andar do prédio do lado, à janela, uma rapariga agita-se: vinde ver, vinde ver, depressa. Da outra janela surgem mais cabeças de raparigas. E de pronto sentenciam e decapitam a minha masculinidade. Um gajo a tratar de roupa de bé-bé?, é paneleiro! Só pode ser paneleiro. Viçosa risada geral.
Foi curto o meu paneleirismo. Durou uns metros medidos em poucos em passos. Quando voltei com mais fraldas, as molas presas nos dentes, alguma das moças reparou: olha!... mas tem barbas! Um paneleiro com barbas!, onde é que já se viu? O breve impasse foi resolvido com uma decisão salomónica: afinal não é paneleiro, só está a fazer uma paneleirice.

terça-feira, julho 15, 2008

A vida em f1.8


Esta foto, um teste de uma lente de 3 tostões (leia-se pouco mais de 100€) que recentemente adquiri, retrata a vida para a maioria das pessoas nos dias de hoje. Um passado desfocado com o presente e um futuro ainda mais difuso. A maioria dos casais que vivem do seu salário e têm compromissos a longo prazo, passam actualmente por dificuldades que eram inimagináveis num passado recente.

quarta-feira, julho 09, 2008

Quanto vale uma vida?

A avaliar por aqueles que entendem que a forma de ultrapassar a crise petrolífera que nos aflige reside no aumento da produção..., não vale nada.

terça-feira, julho 08, 2008

Nuances


Há luzes que é um pecado não as registar. Esta luz, deste dia em fim de tarde, estava de duma pureza que quase levava às lágrimas.
foto: Mereces, Barcelinhos Maio de 2008

segunda-feira, julho 07, 2008

Crónicas do Cátabo

Crónica Segunda

Do nome não recordo. Lembro bem da testa, brilhante de um suor oleoso, e das mãos, sebosas e inquietas, a segurar uma bolsilha. Este homem tinha uma estalagem, uma mulher e uma filha. Ou era uma estalagem, uma filha e uma mulher? Da estalagem é que não houve dúvidas.
Por aquela altura, já lá vai mais de uma década, no Tribunal de Barcelos foram julgados vários casos de violação. O homem da estalagem estava arrolado como testemunha num deles.
Estava-se na Primavera e corriam as Festas das Cruzes. Uma rapariga, aluna numa das escolas da cidade, com os seus 14 ou 15 anos (já não lembro bem), foi-se divertir numa das pistas de carrinhos de choque. Dias após, regressou ao mesmo divertimento. De ambas as vezes, estava sozinha. De ambas as vezes, chegou, gastou todo o dinheiro disponível em fichas e depois deixou-se ficar por ali, a assistir ao corrupio do local. A banhar-se na cativante e sedutora desordenança, como um peixe que abandona a segurança regrada do seu pequeno aquário doméstico.
Peixe de águas revoltosas e profundas, habituado a manhas e truques, com graduação obtida em festas e romarias, um empregado do divertimento não demorou a topar a rapariga.
Meteu conversa, e ela respondeu.
Ofereceu-lhe fichas, e ela aceitou.
Ganhou-lhe a confiança e a simpatia.
Um dia, esperava-a à saída da escola. Fez convite para um passeio, de carro.
Foram para um pinhal não longe da cidade. O condutor do automóvel violou-a. Cúmplice só na armadilha, o jovem da pista dos carrinhos de choque assistiu.
Gordinho, o homem da testa reluzente protestava com brandura, indignava-se com comedimento. No átrio do tribunal, já todos sabiam que era empresário e que estava impaciente e aborrecido pelo tempo, irrecuperável, que estava a perder. Tempo inutilizado ali; tempo tão querido e precioso para dedicar à sua amada estalagem.
Chegou por fim a sua vez de prestar testemunho.
O que é que nos pode dizer sobre o caso que estamos aqui a tratar?, perguntaram-lhe. E o homem da testa reluzente lamentou. Lamentou o tempo que lhe tinham feito perder. Lamentou ainda que nada pudesse contribuir, porque nada sabia.
Mas a vítima não é sua filha? É, sr. dr. juiz. Mas eu só sei que já perdi muito tempo com isto. Além do mais, eu trabalho, sou uma pessoa muito ocupada, tenho responsabilidades e a educação da minha filha é com a mãe dela. Para mais, tratando-se de coisas de mulheres.
Foto: Nuno Sousa

Vassalagem


Há sempre a ideia de vassalagem quando pensamos na Igreja Católica. Vassalagem aos padres, aos bispos, cardeais... Papa...

Haverá. Mas é uma adulteração do verdadeiro Cristianismo, porque em Igreja, a hierarquia apresenta-se como uma pirâmide invertida. À medida que subimos na hierarquia, mais estamos ao serviço dos outros.

quinta-feira, julho 03, 2008

A ponte

Ponte de Manelo - Creixomil, Barcelos

P.S. - Eis o estado das pontes. Não se constroiem novas e as que existem estão bastante degradadas. É urgente contruir pontes e esquecer os muros.